De volta, Sônia!.



Incrível como Sônia sempre volta a aparecer. E nas piores horas.
Dela não ouso reclamar: esteve sempre presente. Anos à fio.
A única denúncia que posso fazer é que ela me vem nas piores horas, me tirando o sono,
e entrando em minha consciência, fazendo duvidar até meus princípios.
Com seu sarcasmo, me levando à beira do abismo, apenas para me salvar logo em seguida.
Eu simplesmente acordo, e já se encontra sentada na cadeira do meu quarto, me fitando.
Ao meu lado. Começa então a caça. Digo a ela pra vir outra hora, na tarde seguinte, no mês que vem.
Daqui dois anos.
Mas ela começa a girar a caixinha de música interna, e o pensamento roda, roda - a mil por hora.
Sobre problemas e soluções, dilemas e discussões.
Amores, fotos em sépia, jornal de amanhã, signo do mês e todas essas futilidades.
Adora o verão, e no inverno se esconde.
Ou até mesmo, procura outros corpos, outras mentes agitadas a quem enlouquecer é seu maior prazer.
Viro para o lado, me cubro e ela apenas ri, irônica.
Fecho os olhos e 'psiu'.
Desperto novamente e ela ainda me vê na tentativa mais frágil do mundo, que é dormir.
Ela impede e acha graça. Eu tento, e tenho sono.
Uma companheira e tanto, é Sônia.
Me leva a mundos que desconheço, por entre dois ou três livros em meu criado
(que é mudo, mas vive comigo entre copos e relógios, revistas; atento).
Quanto mais leio, menos durmo.
Mais fantasio, viajo ao longe, com passagem para o inexistente.
Levanto. Abro a janela, olho a rua. Gente chegando, táxi parado, gente se indo.
Noite inaproveitada. Uma hora, outra mais. Nada de o sono chegar.
O maldito que atrasa, mas vem, hoje se perdeu pelo caminho.
Cabeça vazia, porta aberta para a oficina de idéias devassas.
Desvaridas, descabidas.
Experimento roupas antigas, procuro meu irmão, ligo a televisão.
Cafeína da tarde fazendo efeito, pulso acelerado. Mais acordada impossível.
Se vai, Sônia.
Durma também, que quando a gente fecha os olhos e descansa o corpo, pode até sonhar se o dia tiver valido a pena.
E então eu vou estar em outra terra, que é apenas minha e ninguém conhece, e contigo o mesmo acontecerá.
Ou então, a porta é só abrir.
Pode ir, que eu deixo que você volte algum dia, quando eu estiver cansada de apenas dormir,
e desejar mais do que nunca sair da rotina.
Quem sabe, novamente anestesiada em amor, em choque de felicidade.
Agora, é tarde e eu preciso que você abandone a minha poltrona e dê lugar para que a letargia de mim se aposse
e me faça mais bela, ao acordar pela manhã, das horas regeneradoras.
Tento, olhos cerrados. Prometo mentalmente: não abrir.
Deixar se navegar pelo que a mente trouxer.
Acho que Sônia se foi.
E espero que não volte amanhã, nem me assuste ao meio da noite,
que já quase nem é mais isso porque daqui a pouquinho amanhece.


1 comentários:

Anônimo disse...

Olá... passei por aqui para conhecer o seu cantinho e deixar um abraço!

 

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