Natal de novo?

Essa contagem regressiva dos dias sempre me deixa ainda mais reflexiva, um tanto menos falante, e com aquela sensação agoniante de "poderia ter sido e não foi". Podíamos ter sido mais pacientes, deveríamos ter tido mais foco, seria recomendável um aumento no autocontrole. Mas que nada: tudo acabou mesmo saindo da nossa frente, porque além de passar, a gente deseja é pelo tempo correr. Além da maratona que é comprar presentes, estar linda (e magra, em forma e sem aparentes dobrinhas, celulites e afins), comprar as roupas certas, visitar todos os parentes importantes, acatar a algum desses milhares de pedidos de doações, desejar feliz natal à todos na empresa, ser uma boa amiga secreta e fazer a listinha de gastos, a outra da viagem, e a do que desejamos pro ano futuro.

Natal me enjoa fácil. É aquela falsidade de quem não se vê há tempos e deseja um ótimo feriado, e tem a vendedora que fica tão feliz com a comissão que deseja também que a sua noite natalina seja das melhores. Temos que pensar num presente criativo para o love, noutro lúdico para a irmã menor - sobrinha, prima, enfim - e em lembrancinhas para a família. Ho ho ho por todo o lado, decoração que bate na cabeça num passeio pelo shopping (lotado, claro), mas que você não resiste: encontra tudo de uma vez, mesmo sob a multidão que também quer achar logo a solução dos regalos alheios. Mas deixo vocês adorarem a data em paz, sentir aquele amor fraterno que acaba dias depois, quando o tédio quente do verão invadir. Amem em paz o aniversário do Criador: só estando longe de mim, já está ótimo. E em paz. É só que, a felicidade fingida de todos me cansa. Abrir os presentes apenas à meia-noite me deixa, além de ansiosa, compenetrada em ser advinha: aquele embrulho ali parece livro. Será que é pra mim? O outro, uma caixa de sapatos. Bem-vindo também. Também tem o choro. Aquele depois de escutar os hits de Roberto Carlos e Simone, antes de dormir. Porque vocês sabem: nessa reba do ano, o que não tiver bem pode vir de presente também. E é o que a gente mais deseja: um emprego, uma reconciliação, um namorado, um pedido de compreensão.

Ou, uma fuga. Que é o que vou fazer. Pela primeira vez, vou me recusar a usar roupa vermelha e estar com o sorriso ensaiado por entre as frases batidas naqueles encontros de família. Estarei em casa. À dois. Que bem mais valioso que um feriado híbrido de capitalista com religioso - e que esse ano, ainda cai no final de semana - é sumir do ritmo frenético onde todos fingem ser o que não são por alguns dias para estar com quem já é mesmo o nosso presente, a benção que apareceu na vida e assim tem sido. Muito melhor que roubar o natal, é ser sequestrada a favor da própria vontade: com recompensa do lado e tudo

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